26 agosto, 2011

Uma jovem brasileira suicida.

“Entrei para a estatística dos jovens brasileiros que tentam o suicídio, e acreditem que a pior parte disso tudo foi quando descobri que ainda estava viva. Foi tudo antecipadamente planejado, aliás, tenho anos planejando, até que ontem tentei colocar em prática. Acordei, coloquei os remédios na bolsa e após ter chegado ao trabalho tomei. Depois tenho lembranças vagas, sei que recebi ajuda de uns amigos próximos, (me desculpem a ingratidão, mas quem disse que eu queria ser ajudada?) meu coração batia em um ritmo sobrenatural, eu sentia frio e meu corpo gelava, era ela: a morte que enfim estava  vindo me buscar.
 Em momento nenhum eu me arrependi, e continuo sem me arrepender, mas eu sabia que daria tristeza para muita gente, e eu não sou tão egoísta a ponto de passar por cima disso. O engraçado é que nem na hora de morrer eu posso pensar em mim, tenho que pensar nos outros, que vão sofrer, que vão chorar, que vão se culpar... E em mim ninguém pensa? Ninguém pensa no quanto vou sofrer se continuar viva, no quanto vou chorar, no quanto viver se tornou doloroso para mim! Ainda tenho que presenciar as pessoas se debulhando em lágrimas, para que eu me sentisse culpada: chantagem emocional! Chorei também, e aquele foi o momento mais sincero da minha vida, o momento do adeus. Fechei os olhos, e eu sabia que já estava indo embora, meu corpo não respondia aos meus estímulos, eu já não conseguia permanecer de olhos abertos, já não sabia quem eu era e nem onde estava.
Acordei em uma sala branca, ainda estava viva e o pior sentia dores horríveis, gritei de desespero, meu Deus que suplício! Eu tinha um tubo, que ia do meu nariz até meu estomago. Eu sagrei. Eu chorei. Eu sofri. Daí em diante nada melhorou, a pior parte é ter que explicar o porquê você tentou se matar, e por acaso depressão se explica? “Mas você é tão jovem...” Ah, é claro que tristeza tem hora certa para chegar...
Eu recebi milhares de medicamentos, e em menos de 5 horas fui “empacotada e transportada” de volta ao inferno da vida. Receitaram-me um psiquiatra, ou o genérico psicólogo, como se fossem remédios poderosíssimos, e com apenas algumas doses de conversa ficaria curada da minha “doença”. Querem me tratar? Então me deixem morrer em paz, eu já fiz a minha escolha e agora é só questão de tempo. Não vai ser amanhã, nem semana que vem, nem mês que vem, mas vai ser.
Eu nasci suicida, já vim marcada para isso. Criei em mim uma barreira, um bloqueio e não consigo ser feliz, e como eu acredito que querer é poder então no fim eu não quero ser feliz. Cresci ouvindo do mundo que sou feia, que sou burra, que sou pobre, que sou gorda, que sou nordestina, que sou um nada. Sem contar a carência que nunca é suprida, estou sempre necessitando de um abraço, de um beijo, de um aconchego, e o mundo está sempre recusando a me amar, e não funciono sozinha, não sobrevivo solitária. Absorvi tudo isso e hoje está impregnado na minha alma, vim ao mundo para fracassar, não vim fazer a diferença, então para mim não vale a pena. Até meus sonhos deixei para trás, fui morrendo aos poucos, hoje com 22 anos já me sinto morta por dentro, o corpo responde mais o coração não...
Amei sinceramente muita gente, e não é a morte que vai destruir isso tudo, são laços fortes demais para serem desfeitos, por isso que vim aqui em publico me desculpar:  sou fraca demais para suportar essa barra. Talvez fosse melhor para todos nós que eu  nem tivesse nascido, mas já que o acidente aconteceu, acho que ainda posso concertar!
Por: Brenda Martins, uma jovem brasileira suícida”

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